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Scientia in Intellectu est: A Morada da Ciência

Atualizado: 15 de mai.



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A profunda asserção “Scientia est in intellectu” – A ciência está no intelecto – legada por Tomás de Aquino (1225-1274) em seu seminal Comentário à Física de Aristóteles, obra basilar do pensamento ocidental, carrega consigo uma verdade de clareza meridiana. De fato, onde mais poderia a ciência encontrar sua sede senão na própria faculdade humana de conhecer? E, no entanto, esta afirmação, que deveria ressoar como um eco do óbvio, frequentemente nos surpreende, sobretudo quando imersos no contexto da modernidade, caracterizada pela crescente tecnificação da prática científica e por uma notória fragmentação do saber. Mas por que tal espanto?

Talvez a surpresa advenha de um equívoco fundamental na percepção contemporânea sobre a natureza da ciência. É comum, em nossos dias, identificar a atividade científica quase que exclusivamente com suas manifestações mais externas e instrumentais: laboratórios repletos de equipamentos complexos, experimentos de alta precisão, os edifícios de universidades e institutos de pesquisa. Estes elementos, sem dúvida cruciais para a investigação empírica, são muitas vezes tomados não como ferramentas a serviço da inteligência, mas como a própria essência da ciência.

Contudo, a visão de Tomás de Aquino conserva toda a sua validade. Toda essa impressionante estrutura material e metodológica, por mais indispensável que seja para o avanço do conhecimento aplicado e para a verificação de hipóteses, é, em última análise, uma projeção da capacidade do intelecto humano. É a mente que concebe as questões, formula as hipóteses, desenvolve as teorias e delineia os métodos para perscrutar a realidade. Os aparatos e os experimentos são, fundamentalmente, extensões e materializações dessa busca intelectual pela compreensão das coisas.

Nessa perspectiva, aquilo que frequentemente consideramos sinônimo de Ciência – o aparato tecnológico, os grandes projetos, os extensos bancos de dados – revela-se, em sua maioria, como um conjunto de meios e instrumentos. São ferramentas admiráveis, sem dúvida, mas ferramentas cujo propósito é permitir que o intelecto científico investigue o mundo com maior alcance e profundidade, valide ou refute suas concepções e, assim, se expanda.

Fica claro, portanto, que o núcleo e o motor do desenvolvimento científico são eminentemente intelectuais. A verdadeira progressão na ciência radica no aprofundamento teórico sobre o objeto de estudo – o que exige leitura crítica, estudo diligente das contribuições passadas e presentes –, na organização lógica e rigorosa das ideias – o que implica o domínio do raciocínio e da argumentação coerente –, e na capacidade de formular perguntas significativas que abram novos horizontes de investigação. É essa maturação intelectual que permite um uso verdadeiramente proveitoso e direcionado dos meios experimentais e tecnológicos de que dispomos.

Resgatar essa compreensão da ciência como uma virtude do intelecto, um hábito da mente que busca a verdade e a inteligibilidade do real, não significa depreciar a importância da observação, da experimentação ou dos recursos técnicos. Pelo contrário, significa situá-los corretamente em relação ao seu princípio e ao seu fim: são instrumentos valiosos, mas subordinados à capacidade humana de pensar, de questionar e de compreender. É este o "foco" que almejamos: uma ciência que, antes de se manifestar em qualquer estrutura externa, floresce e se robustece na inteligência.

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